As crianças nos surpreendem com sua espontaneidade.
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Foto: Gabriel Heusi/ Portal da Copa/ME https://fotospublicas.com/veja-fotos-do-estadio-beira-rio-em-porto-alegre/ |
O
final do mês de maio de 2018 revelou uma desagradável surpresa aos brasileiros,
uma greve de caminhoneiros que iniciou em uma segunda-feira, dia 21, durou dez
dias e desabasteceu postos de combustíveis em todo o país.
O
desabastecimento foi tão grave que no domingo, dia 27, a prefeitura de Porto
Alegre determinou que os ônibus da cidade não saíssem das garagens para poupar
combustível, para que na segunda-feira pudessem circular atendendo trabalhadores e estudantes.
Tenho
uma filhinha de 5 anos (nesta data ainda tinha 4 anos) que há tempos eu quereria levar a uma partida de futebol
no estádio Beira-Rio.
Quando
tive esta vontade pela primeira vez, o Inter ainda estava disputando as
partidas da 2ª divisão e eu aguardava uma ocasião que não envolvesse muita ‘paixão’
dos torcedores para evitar problemas de segurança tanto minha quanto de minha
pequena. Outra dificuldade era ter um jogo em dia que ela estivesse com o papai
e, ainda, que não fosse no sábado a tarde porque eu tinha um compromisso
religioso neste período.
Em
2017 apenas um jogo perto do final do ano concatenou todas estas circunstância mas eu só conseguiria
chegar ao estádio mais ou menos aos 15min do segundo tempo naquela ocasião. Não rolou.
2018
começou mais promissor e alguns jogos do campeonato gaúcho permitiam nossa
visita. Mas ali percebi um outro problema. Como não sou sócio, não conseguia
comprar ingresso para ir ao estádio. Tentei diversas vezes e em todas não tive
sucesso.
Alguns
amigos me ofereceram a carteirinha de sócio emprestada e eu não queria usar
este subterfúgio. Até que não vi outra alternativa e aceitei a oferta de um
amigo muito querido.
Desta forma eu pude escolher um bom jogo para levar minha pequena pois agora os jogos eram
aos domingos e eu tinha dois destes, por mês, para escolher. O time também
colaborou pois estava em grande fase e não haveria problemas de violência com a
torcida.
Escolhi
o jogo Inter e Corinthians. Planejamento feito, tudo preparado.
E veio a greve
dos caminhoneiros.
O
primeiro desafio foi: como ir até o estádio?
Tivemos
sorte e conseguimos ir de lotação até o centro e de lotação até o estádio.
Chegamos umas 14h e o jogo seria às 16h. Estava dentro do planejamento. Ficamos
curtindo a movimentação do lado de fora do estádio. E tinha bastante gente.
Justamente como eu queria que ela visse (torcia que isto causasse boa impressão
nela).
Há
uma escola em frente ao estádio e a irmã adolescente dela estuda nesta escola,
eu sabia que quando mostrasse a escola, minha pequena vibraria pois ama muito a
irmã. Mais um ponto positivo da tarde esportiva-familiar.
Próximo
do horário, entramos no estádio. Arquibancada superior, setor 10, próximo da
bandeirinha de escanteio do Gigantinho e ao lado dos espaços reservados aos
cadeirantes.
Esta
entrada no estádio não foi sem algum stress pois eu levava uma série de guloseimas para nossa
princesa já que sabia que ela não comeria quase nada do que tem a venda dentro
do estádio e quase que, por isto, não conseguimos entrar. Mas depois de
falar com três níveis diferentes da segurança nos autorizaram a ingressar nas dependências do clube do povo.
Naquela
tarde só havia um cadeirante no espaço que comporta dez deles e que possui duas
funcionárias do clube para auxiliá-los. Uma destas funcionárias estava ‘sem
trabalho’, portanto. Nossa menininha obviamente estava apenas brincando no
estádio (ela ainda não se interessa por futebol) e rapidamente fez amizade com a funcionária.
Durante
a partida o Inter fez um gol (aos 18min do segundo tempo, empatando a partida) e eu
consegui que ela percebesse a vibração do estádio e seus torcedores em comemorar um gol. A tarde
estava simplesmente perfeita.
Decidi
ir embora mais ou menos no meio do segundo tempo pois sabia das dificuldades em sair do estádio amplificadas pela ausência de ônibus causada pela falta de
combustível. Quando estávamos do lado de fora e já dentro de uma lotação em
direção ao centro, o Inter faz o segundo gol e vence a partida se consolidando
na parte superior da tabela. A tarde esportiva parecia perfeita.
Mas
se tivesse sido uma tarde absolutamente perfeita não receberia o título de ‘experiência
inusitada’, não é mesmo?
Quando
estávamos nos preparando para sair do estádio, a funcionária que tinha
interagido muito com a nossa eterna bebê, percebeu minha intenção e veio contar algo que havia acontecido.
Ela
me perguntou se eu havia percebido que, em um certo momento, ela havia chamado a
outra funcionária para falar com minha gatinha. Disse-lhe que sim e ela contou o
motivo.
Ela
estava conversando com minha fofurinha e esta teria dito algo como “não sei o
que eu to fazendo aqui, eu sou do Grêmio”, o que motivou a funcionária a chamar
a amiga que é gremista.
Confesso
que, na hora eu desanimei um pouquinho. Mas sei que ela sempre terá liberdade
para escolher suas coisas e rapidamente me conformei, me concentrando nas
conquistas daquela tarde fenomenal.
O
resumo da ópera foi o seguinte.
-
Minha filha é maravilhosa;
-
Nossa tarde foi sensacional;
-
Consegui fazer tudo como tinha desejado;
-
O principal que era criar um clima favorável para minha menina querer simpatizar
com o meu time pode até parecer que não deu certo mas eu nunca quis forçar ela
a nada, só queria ‘criar uma dúvida razoável’ – e nisto fui bem sucedido.
-
Hoje em dia passados uns 6 meses ela já diz ‘sou do GRENAL’, às vezes, e me pediu para levá-la na
Arena do Grêmio, desejo que pretendo realizar em breve.
Alerta.
Há
neste relato um alerta para os times da capital. Ambas as equipes criaram um
grande quadro de sócios que os ajuda a sustentar a máquina futebolística. E
isto é positivo. Ocorre que tal modelo causa um problema (imagino que não
previsto): torcedores que não são sócios tem grande dificuldade de conseguir
ingresso para ir ao estádio e isto poderá causar uma queda na quantidade de
novos torcedores nas próximas gerações (não necessariamente de sócios) pois
enquanto os estádios ficam sempre lotados, esta lotação é um revezamento entre
os cerca de 100 mil sócios mas os outros 3 milhões de torcedores da cada lado
ficam excluídos dos estádios e, com eles, seus filhos e netos.
José Artigas Leão Ramminger
18/11/2018
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